(Sob 'Reconhecimento do Amor’, de Drummond)
Minha paixão...
São tão estranhos os destinos da amizade.
Não aparecestes com palavras suaves.
Trazias os olhos pensativos,
Nenhum olhar para mim.
Eu trazia a espera dos desencantos de ilusões.
Não pedias nada,
Não reclamava.
Não pedi,
Não ouvi.
Eu culpava tudo pelos meus desencontros.
Queria, talvez, sem perceber (eu juro!):
Mudar de mundo,
Fugir;
Te esconder dentro dos meus desencantos,
E angústias,
E enganos,
Que doíam por mim desde quando nasci,
Ou em qualquer outro momento
Atemporal.
Como me enganei fugindo do amor!
Como o desconhecemos,
Talvez pelo medo de seu domínio,
Seu despotismo,
De seu absolutismo incrível
De glória e lágrimas.
Entretanto ele chegou,
E me envolveu.
Docemente,
Sutilmente.
Não queimava como eu acreditava,
Não doía como eu temia.
Sorria...
Estranho...
Mal entendi (tonta que fui) esse envolvimento.
Ferí-me pelas minhas próprias mãos;
E pelas palavras das bocas e mãos de outros;
Não pelo amor que trazias para mim,
E que tua boca confirmava junto a meus lábios
Na estranha procura do outro.
O Outro que me supunha,
O Outro que te supus.
Quando - pedido pelo amor - supus sermos um só.
Agora (e para sempre)
Paixão minha:
Nem olhar precisamos ter para ver,
Nem ouvidos para captar
O domínio, o absolutismo da vida;
Perdidos que estamos, nem mesmo somos nós.
A sós:
Somos perfeitamente: UM só...
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